É fato que estamos vivendo um dos tempos mais difíceis entre as últimas gerações. A pirâmide de Maslow nos indica que em crises geralmente somos afetados no topo, onde aspectos secundários são impactados, mas, desta vez é diferente, a base fundamental está comprometida, aquela em que lutamos pela vida, pela subsistência.
Este quadro, de certa forma inusitado, tem provocado distintas reações, tanto nas pessoas em seu contexto social, como em empresas, que em sua maioria, não estavam preparadas para mares tão turbulentos.
O ano de 2020 era tido como um ano de recuperação em nosso país, com uma projeção média de 2,5% de crescimento do PIB segundo muitos especialistas, impulsionado por recordes na baixa taxa de juros básica, inflação controlada, reformas sendo realizadas, como por exemplo a da previdência e uma política um pouco mais alinhada à redução da máquina estatal, privilegiando a iniciativa privada, porém, a maioria das expectativas esvaíram-se com a chegada do dito vírus.
O Brasil, particularmente, já vivia antes mesmo da pandemia causada pelo coronavírus, um de seus piores anos na história em resultados econômicos. Entre as principais economias do mundo (G20), sejam elas de países de primeiro escalão ou economias emergentes, figuramos entre os piores resultados entre 2009-2014, com cerca de 3,2% de crescimento do PIB e amargamos a última colocação entre 2014-2018, com um PIB negativo em cerca de 0,9%.
Olhando este enredo poderíamos concluir que é impossível prosperar em um país como o Brasil, pois praticamente não sabemos o que é viver sem profundas crises econômicas, instabilidade politica e todos os desafios inerentes à uma nação em desenvolvimento, mas não, por pior que possa parecer, ou mesmo ser este momento e ao contrário do que se imagina, é nestes tempos de crise que companhias vencedoras prosperam, não por qualquer tipo de sorte, mas por ações deliberadas e organizadas, que as destacam em meio à miríade de problemas.
Uma pesquisa realizada pela BCG Brasil, composta por mais de 100 empresas, revela algumas companhias que estavam com baixo desempenho antes da crise econômica mais recente (2014-2018) e mesmo assim, foram capazes de reverter drasticamente seu desempenho quando a crise chegou.
Estas companhias foram apelidadas como Especialistas em Transformação, tendo todas elas em comum cinco características que as tornaram campeãs em um contexto adverso, que são:
Foco obsessivo na eficiência;
Busca por crescimento;
Programa de transformação formal;
Ação antecipada e decisiva;
Excelência na execução.
Vamos detalhar cada uma destas características e seu impacto frente à contextos adversos:
1. Foco obsessivo na eficiência:
As Especialistas em Transformação dedicam-se integralmente à otimização constante de seus processos, focando na cadeia de valor para o cliente e eliminando todo e qualquer desperdício que possa prejudicar sua competitividade. Processos bem mapeados, modelados e em melhoria continua, principalmente com a participação e engajamento de todos os níveis e áreas funcionais da companhia, são retrato de uma cultura vencedora.
Podemos dizer que estas empresas vivem a cultura lean em estado de flow, assim, gordura não é bem vinda ou sequer tolerada, muito pelo contrário, despesas operacionais, comerciais e administrativas, comumente conhecidas como overhead, são minimamente monitoradas e eliminadas sempre que necessário.
2. Busca por crescimento:
Segundo a pesquisa, estas empresas não se acomodaram em tempos de dificuldade, na verdade, obtiveram taxas de crescimento expressivas quando confrontadas com empresas do grupo de comparação. Suas taxas de crescimento durante períodos de turbulência se mostraram arrojadas, equivalendo-se até mesmo ao desempenho de tempos de bonança.
Eficiência nas estruturas e processos de geração de negócios, somada à diversificação no portfólio de produtos e serviços, permitiram crescimento sustentável. A mensagem aqui é que as Especialistas em Transformação não se deixaram intimidar pelas adversidades encontradas, na verdade se anteciparam em estruturar o crescimento, ainda que diante de sinais de declínio econômico.
Vejamos, a busca desenfreada pelo crescimento não é um componente desejado, mas debaixo de um planejamento bem consolidado, somado ao desdobramento ágil e colaborativo, é sim possível obter resultados bem acima da média.
3. Programa de transformação formal:
Pode-se dizer que este processo está intimamente ligado à Transformação Digital, que é bastante amplo, e diferente do que muitos pensam e focam, não se trata primordialmente de tecnologia, esta, é um meio, um coadjuvante catalisador, que tem o poder de exponencializar o impacto de uma nova cultura e abordagem empresarial. Os principais elementos de mudança estão aqui ancorados em um novo modus operandi nas interações humanas, lideranças, modelos de gestão e atuação coletiva.
Pensar e executar a transformação, requer gestão embasada em uma forte cultura, que visa antes de mais nada o pensamento de longo prazo e a disciplina necessária para a jornada que se apresenta, e que não é centrada em interesses isolados, mas no bem comum da companhia e no impacto gerado pela mesma, esta é a espinha dorsal, ou mesmo a identidade forjada nas Especialistas em Transformação.
Formalizar o programa de transformação aos stakeholders internos e externos, ou seja, gestores, colaboradores, clientes, investidores, parceiros e outros, além de comunicar um plano efetivo para gestão da mudança, gera engajamento genuíno por todas as partes envolvidas. O compromisso integro com um projeto de tamanha envergadura, permite que os objetivos, indicadores, metas e ações complexos e por vezes dolorosos, porém, necessários para sua efetivação, sejam encarados como um mantra a ser seguido e honrado por toda a companhia, da alta direção até às áreas operacionais.
4. Ação antecipada e decisiva:
As Especialistas em Transformação não aguardam o momento pseudo favorável para iniciar e conduzir a mudança, elas se colocam como vanguarda, contrariando as análises mais pessimistas e se lançam à frente da maioria dos players, encarando a volatilidade do ambiente como uma oportunidade a ser explorada.
Não dá pra deixar de citar a filosofia Anti-Frágil de Nassim Taleb, em que coisas, pessoas ou companhias, que por sua resiliência e adaptabilidade, se beneficiam do caos, ganham força e crescem ao invés de resistir à tormenta e quebrar.
Pensamento e cultura de experimentação, de agilidade e obsessão pelas necessidades e experiência do cliente, não são luxo ou exclusividade de startups, mas itens compulsórios para quem busca prosperar em meio à um mundo VUCA - volátil, incerto, complexo e ambíguo.
5. Excelência na execução:
O grande problema da maioria dos planejamentos em companhias tradicionais se dá na morosidade em executá-los, ou seja, testar se o que está no papel corresponde à realidade.
Visão de longo e médio prazo são sim fundamentais, uma vez que o horizonte deve existir e ser buscado, mas, antes de mais nada, é necessário colocar a embarcação no mar e em curtos ou até mesmo curtíssimos espaços de tempo corrigir a rota. Aqui está o divisor de águas entre as companhias que alcançam genuína transformação e aquelas que só ficam no campo do desejo, do plano no papel.
Existem metodologias muito ligadas à esta nova cultura empresarial, capazes de promover engajamento de ponta a ponta junto aos objetivos e métricas que norteiam a companhia em regime de aceleração. De qualquer forma, somente pessoas, pensamento e ações disciplinados permitirão que tal dinâmica e diferenciação sejam alcançadas.
Concluindo, existem sim empresas que atuam e alcançam resultados muito além da média em um país como o Brasil, que prosperam em meio à crises, com consistência em seus resultados, stakeholders engajados, cultura de melhoria e adaptação e tantos outros possíveis adjetivos, porém, existe um preço a ser pago, que está longe de ser inatingível, mas que requer total comprometimento e maleabilidade daqueles que a compõem, a começar pela alta direção, desdobrando-se através de sua cultura e planejamento ágil à todos os níveis da companhia.
Nós da Koncepto Gestão Corporativa, temos como causa maior, a missão de apoiar as companhias nacionais em seu processo de transformação. Será um prazer falar com você sobre suas dores, demandas e oque mais estiver relacionado ao tema.
Vamos pra cima! Um abraço!
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